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Doença de Chagas, revisão da literatura médica.

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Dr. Carlos Chagas

Dr. Carlos Chagas

Em 1909 o médico sanitarista brasileiro Dr Carlos Justiniano Ribeiro Chagas descobriu a doença de Chagas e demostrou todo seu ciclo, incluindo o vetor da doença, o parasita Trypanosoma cruzi, o hospedeiro, as manifestações clínicas e epidemiologia da doença. Nenhum cientista na história da medicina repetiu tal feito até os dias de hoje. Hoje a doença de Chagas é considerada uma patologia que ocorre em quase todo o planeta. 

Sem dúvidas o local de moradia propício a albergar os triatomíneos é um dos maiores fatores de risco para a doença. Os triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiro, bicudo, chupança, furão, dentre outros, são os vetores da doença de Chagas. São pertencentes à Ordem Hemiptera por apresentarem o primeiro par de asas com uma parte membranosa e outra parte dura, coriácea. Todos os hemípteros também possuem um aparelho bucal do tipo "picador-sugador", que pode ser utilizado para sugar seiva de plantas (hemípteros fitófagos), para sugar outros insetos (hemípteros predadores ou entomófagos) ou para sugar sangue (hemípteros hematófagos, os triatomíneos) - http://www.cpqrr.fiocruz.br/laboratorios/lab_triato/vetores%20da%20chagas.htm

 

Período de incubação

- Transmissão vetorial – de 4 a 15 dias.

- Transmissão transfusional – de 30 a 40 dias ou mais.

- Transmissão vertical – pode ser transmitida em qualquer período da gestação ou durante o parto.

- Transmissão oral – de 3 a 22 dias. 

- Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias. 

 

A doença de Chagas pode causar inúmeras repercussões no ser humano. Na doença de Chagas aguda a notificação é compulsória e se caracteriza por alta parasitemia no sangue periférico que dura até 8 semanas. O período de maior transmissão vai de setembro a março no Brasil, época mais quente e úmida o que favorece a atividade dos vetores domiciliados (triatomíneos). Referente a mortalidade da doença de Chagas aguda o Manual Prático de Subsídio à Notificação Obrigatória no SINAN, MS, Doença de Chagas Aguda diz: A morbi- mortalidade da doença aguda por Chagas (DCA) guarda em geral relação direta com a idade do paciente. Via de regra, quanto mais jovem é este, tanto mais grave e clinicament e exuberante é o quadro clínico da enfermidade, assim como maior é a letalidade, como bem observado em 364 casos agudos estudados em Bambuí, Minas Gerais, todos de transmissão vetorial. Por exemplo, naquela casuística de indivíduos sem tratamento específico, faleceram no total 8,3% dos pacientes, sendo 19,8% na idade de 0 a 2 anos, 6,7% entre 3 e 5 anos, 3,5% entre 6 e 10 anos e 0,0% acima de 10 anos. A maioria absoluta das mortes por DCA foi devida a insuficiência cardíaca congestiva aguda, por miocardite aguda chagásica, associando-se 10% de meningo- encefalite devida ao T.cruzi, nestes casos fatais. Dias JCP. Acute Chagas Disease. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 79: 85 –79, 1984. 

 Arquivo do Dr. E. Dias, FIOCRUZ – Bambuí, MG

 

Arquivo do Dr. E. Dias, FIOCRUZ – Bambuí, MG

Sintomas da doença de Chagas aguda: os sintomas clínicos estão relacionados principalmente a idade do paciente, mas entre os sintomáticos a febre persistente e prolongada por até 4 semanas é um sintoma comum. Naqueles casos em que a transmissão se deu através de vetores é possível encontrar o chagoma de inoculação, sendo o mais clássico (apesar de incomun <10% dos casos) o complexo oftalmoganglionar - sinal de Romaña. O sinal de Romaña é uma resposta imunológica a penetração do parasita, que pode durar algumas semanas e caracterizada edema bipalpebral, unilateral, com acometimento de linfonodos pré-auriculares. Outros achados incluem a taquicardia, adenopatia e hepato-esplenomegalia. Esses achados são semelhantes aqueles encontrados na tuberculose disseminada, doença pelo HIV, mononucleose infecciosa, paracococcidiodomicose forma juvenil, brucelose e neoplasias. Doenças que fazem parte da investigação da febre de origem indeterminada

O diagnóstico na fase aguda da doença de Chagas pode ser feito através da visualização direta do parasita no sangue (critério parasitológico - teste direto a fresco) ou pelo achado de anticorpos anti-T. cruzi da classe IgM no sangue periférico (critério sorológico - IFI-IgM ou WB).

Fora as incomuns situações de doença aguda sintomática a enorme maioria dos pacientes possuem doença crônica assintomática que pode, ou não, evoluir para sequelas chagásticas: cardiomegalia, megacólon, esôfago de Chagas, etc.

A infecção crônica da doença de Chagas é mais comum e o diagnóstico bem menos simples. Na infecção crônica há necessidade de exames sorológicos de diferentes métodologias e hemocultivo específico para Chagas, os mesmos devem ser interpretados com o objetivo de estratificar aqueles pacientes que se beneficiarão do tratamento. O PCR (reação da cadeia polimerase)  nessa fase pode auxiliar o diagnóstico, principalmente quando sorologias duvidosas. Os testes mais sensíveis são ELISA ou IFI-IgG e devem ser realizados com outra metodologia como o HAI. O resultado desses exames são analisados da seguinte forma: ambos positivos equivale doença crônica de Chagas e ambos negativos afasta a doença. Todavia, quando os resultados de dois métodos são contraditórios os exames devem ser repetidos ou mesmo lançar mão da possibilidade de WB ou PCR para o Trypanosoma cruzi.

O tratamento da doença de chagas é recomendado para todos aqueles com infecção aguda, infecção congênita, para aqueles com sistema imunológico diminuído e para crianças com doença crônica pelo Chagas. Adultos com doença crônica também podem se beneficiar do tratamento. A droga disponível para tratamento no Brasil é o Benzonidazol 100mg (ROCHAGAN) com dose diária de 5 a 7mg/kg dividido em duas doses por 30 a 60 dias e é de distribuição gratuita pelo Ministério da Saúde. 

Literatura sugerida:

DOENÇA DE CHAGAS CID 10: B57

http://www.cdc.gov/parasites/chagas/ 

 

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS