A febre tifóide é uma doença febril sistêmica associada principalmente a dor abdominal. O micro-organismo mais envolvido na doença é a Salmonella entérica sorotipo typhi (S typhi). A febre tifóide é mais comum em crianças e adultos jovens, e está presente em todo o mundo possuindo preferência a locais com pior saneamento básico e alta densidade de habitantes. Os locais com maior prevalência da doença no planeta é a Asia seguido da America Latina, Caribe e Oceania.
A febre tifóide no Brasil: nos últimos 12 anos (http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1554) ocorreram mais de cinco mil casos confirmados de febre tifóide no Brasil, desses mais de 90% foram na região norte e nordeste.
O micro-organismo classicamente responsável pela doença é a Salmonella enterica sorotipo typhi (S typhi), todavia outros podem ser agentes da mesma doença: Salmonella paratyphi A, Salmonella paratyphi B, Salmonella paratyphi C e Salmonella choleraesuis. O homem é o único reservatório da S enterica sorotipo typhi.
Achados clínicos: os sintomas da febre tifóide ocorrem entre 5 a 21 dias após ingesta de água ou alimento contaminados pelo micro-organismo. A febre e calafrios são comuns na primeira semana de sintomas (paradoxalmente associada a bradicardia) e, na segunda semana de doença, surgem a dor abdominal e rash cutâneo em tórax e abdômen. Na terceira semana de doença podem ocorrer sangramento intestinal, hepatoesplenomegalia e perfuração intestinal. Esses achados levam para sepse e necessitam de intervenção médica com urgência. A doença pode ou não cursar com diarréia. Cefaléia com alterações do sono são comuns. Outros achados neurológicos também podem ser encontrados como ataxia, hipereflexia, parkinsonismo, espaticidade e clonus.
Exames complementares: anemia, leucopenia (quando leucocitose suspeitar de perfuração intestinal), aumento de TGO e TGP são achados frequentes. O diagnóstico é feito através da cultura e isolamento do agente etiológico. Sorologias não são muito úteis e o tratamento deve ser empregado com base na suspeita clínica. A cultura de medula óssea é mais sensível e pode ser realizada mesmo com o uso de antimicrobianos empíricos, mantendo sensibilidade adequada. Os espécimes clínicos em que os micro-organismos responsáveis pela febre tifóide podem ser isolados/cultivados incluem as fezes, medula óssea, hemoculturas, urina, rash cutâneo e conteúdo do duodenal.
Tratamento: uma quinolona de ação sistêmica pode ser utilizada para o tratamento da doença por 7 a 10 dias. Todavia a resistência a essas drogas são altas em alguns lugares do mundo, como sul da Asia. Para essas cepas os betalactâmicos como ceftriaxona em dose alta ou azitromicina ou cloranfenicol são opções a serem utilizadas. Pessoas assintomáticas carreadoras do patógeno (presença do micro-organismo >12 meses após tratamento da infecção aguda) devem ser tratadas por 4 semanas, pois apresentam risco de transmissão. Existem dois tipos de vacinas no mercado uma parenteral e outra via oral, ambas protegem (mas não 100%) da Febre Tifóide, são recomendadas para aqueles pacientes que irão para áreas endêmicas.
Renato Cassol - Médico Infectologista
Porto Alegre - RS