Blog

Notícias de saúde com foco em infectologia.

Dor lombar: uma doença infecciosa?

Em entrevista a Medscape Infectious Disease  Dr Paul G. Auwaerter da Johns Hopkins comenta sobre a dor lombar (lumbago) e a sua relação com com a bactéria P acnes.  A idéia de que a P acnes (bactéria Gram-positiva anaeróbia) possa ser responsável por alguns tipo de dor lombar crônica. Essa bactéria é um patógeno indolente frequentemente considerado um colonizante que pode causar infecções de glândulas sebáceas em humanos. O P acnes foi atribuido, também, a raras infecções de shunt ventriculoatrial e infecções protéticas, principalmente em cirurgias ortopédicas em membros superiores.

Seria possível essa bactéria ser responsável ou coadjuvante em alguns casos de lumbago? Já no ano de 2001 a revista The Lancet (Association between sciatica and
Propionibacterium acnes. THE LANCET • Vol 357 • June 23, 2001) publicou a possível associação de entre dor ciática e infecção pelo Propionibacterium acnes. Logo, esse assunto não é tão novo assim na medicina.

Desde então sugiram alguns estudos associando a dor lombar e o Propionibacterium acnes (Agarwal et al. Bacteriologic culture of excised intervertebral disc from immunocompetent patients undergoing single level primary lumbar microdiscectomy. J Spinal Disord Tech. 2011;24:397-400; Arndt J et al. Bacteriology of degenerated lumbar intervertebral disks. J Spinal Disord Tech. 2012;25:E211-E216; Albert HB et al. Does nuclear tissue infected with bacteria following disc herniations lead to Modic changes in the adjacent vertebrae? Eur Spine J. 2013;22:690-696.) já outros artigos não encontraram relação da dor lombar e doenças infecciosas (Wedderkopp N, et al. No evidence for presence of bacteria in modic type I changes. Acta Radiol. 2009;50:65-70 e Carricajo A, et al. Propionibacterium acnes contamination in lumbar disc surgery. J Hosp Infect. 2007;66:275-277). 

Recentemente um grupo da Dinamarca publicou um estudo que chega a conclusão que o tratamento empírico de dor lombar com antimicrobianos não deve ser empregado de rotina. Se houver suspeita de infecção a tentativa de isolar o agente etiológico através de biópsia percutânea com cultivo em meios anaerobicidas e aerobicidas deve ser realizada. Todavia, é importante fazer um contra-ponto, já que a presença de P acnes no disco vertebral não causa aumento da Proteína C Reativa (marcador inflamatório) e nem mesmo outras alterações infecciosas clássicas. Sempre lembro, em se tratado de coluna e discos vertebrais a pesquisa de micobacteriose é mandatória em países como o Brasil onde existe alta endemicidade da doença. 

A etiopatogenia infecciosa das doenças degenerativas da coluna ou como causa de dor lombar (lumbago) também foi investigada por K. Alpantaki em um estudo que discute a relação de infecções por herpes vírus e a patogênese da degeneração do disco intervertebral. Inconclusivo na minha opinião, pois identificar material genético viral no disco vertebral não necessariamente se correlaciona com doença nesse local.

Enfim, novas e mais robustas investigações são necessárias para entender a verdadeira relação entre infecções bacterianas ou virais e a dor lombar crônica. Aparentemente essa resposta não tardou a aparecer com o excelente estudo prospectivo duplo cego dinamarquês de 2013 que discutiremos aqui.

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS