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Notícias de saúde com foco em infectologia.

Endocardite Infecciosa

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A endocardite infecciosa é a infecção na(s) válvula(s) do coração. As taxas mais elevadas de endocardite infecciosa são vistas naqueles pacientes com válvulas cardíacas protéticas, com dispositivos intracardíacos (marca-passo, p. ex.), doenças congênitas cianóticas não corrigidas cirurgicamente, história de endocardite prévia, doença reumática cardíaca, lesões valvulares degenerativas, pacientes em hemodiálise, pacientes com HIV/Aids, diabetes, pós procedimentos dentários e em usuários de drogas injetáveis.

Microbiologia

Os estreptococos e estafilococos representam 80% dos casos de endocardite infecciosa, com proporções que dependem se a valva (ou válvula) é nativa ou artificial (protética), se a infecção é comunitária ou nosocomial (hospitalar), entre outras.

Endocardite com hemoculturas negativas

Aproximadamente 10% das endocardites infecciosas não isolam o germe responsável pela doença nas hemoculturas e existem dois motivos para isso ocorrer:

  1. paciente com uso prévio de antimicrobianos;

  2. endocardite causada por micro-organismos de difícil crescimento em hemoculturas.

Nesses casos os testes diagnóstico por sorologia, biologia molecular (PCR) e técnicas especiais de cultivo devem ser utilizadas. Os micro-organismos mais frequentes nessas situações são: espécimes de bartonella, brucelose, febre Q e o grupo HACEK. 

HACEK: Haemophilus specie, Actinobacillus, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella kingae.

Testes sorológicos para bartonella, C. burnetii e brucelose devem ser realizados naqueles pacientes com hemoculturas negativas. Amplificação genética por PCR na valva cardíaca também é uma possibilidade para diagnóstico do agente etiológico, método ainda pouco disponível no Brasil. 

A endocardite infecciosa causada por fungos além de possuir alta letalidade é indicação de troca valvar em virtualmente todos os casos. 

 

Diagnóstico

Critérios de DUKE apresenta sensibilidade e especificidade de aproximadamente 80%. Ecocardiograma transtorácico e, dependendo dos achados, transesofágico devem ser realizados para o diagnóstico e acompanhamento da endocardite infecciosa. Febre, astenia, surgimento de novo sopro cardíaco, sudorese noturna, lesões de pele são alguns sintomas possíveis na endocardite. É uma das doenças do diagnóstico diferencial de febre de origem indeterminada.

 Tratamento

O tratamento da endocardite infecciosa é realizado por 2 a 6 semanas com antimicrobianos endovenosos (dependendo da gravidade de cada caso e do agente etiológico isolado). Alguns pacientes necessitam a troca da válvula cardíaca devido a destruição ou disfunção da mesma. Quando isso é necessário durante o tratamento com antimicrobianos, a duração do mesmo deve se manter a mesma, exceto se a cultura da válvula retirada ainda demonstrar o micro-organismo, nesses casos, o tempo de tratamento deverá ser revisto.

Prevenção

A profilaxia cirúrgica é uma das principais formas de prevenção da endocardite infecciosa, também indicada para alguns procedimentos dentários. 

 

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Febre Tifóide

A febre tifóide é uma doença febril sistêmica associada principalmente a dor abdominal. O micro-organismo mais envolvido na doença é a Salmonella entérica sorotipo typhi (S typhi).  A febre tifóide é mais comum em crianças e adultos jovens, e está presente em todo o mundo possuindo preferência a locais com pior saneamento básico e alta densidade de habitantes. Os locais com maior prevalência da doença no planeta é a Asia seguido da America Latina, Caribe e Oceania.

A febre tifóide no Brasil: nos últimos 12 anos (http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1554) ocorreram mais de cinco mil casos confirmados de febre tifóide no Brasil, desses mais de 90% foram na região norte e nordeste.

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O micro-organismo classicamente responsável pela doença é a Salmonella enterica sorotipo typhi (S typhi), todavia outros podem ser agentes da mesma doença: Salmonella paratyphi A, Salmonella paratyphi B, Salmonella paratyphi C e Salmonella choleraesuis. O homem é o único reservatório da S enterica sorotipo typhi.

Achados clínicos: os sintomas da febre tifóide ocorrem entre 5 a 21 dias após ingesta de água ou alimento contaminados pelo micro-organismo. A febre e calafrios são comuns na primeira semana de sintomas (paradoxalmente associada a bradicardia) e, na segunda semana de doença, surgem a dor abdominal e rash cutâneo em tórax e abdômen. Na terceira semana de doença podem ocorrer sangramento intestinal, hepatoesplenomegalia e perfuração intestinal. Esses achados levam para sepse e necessitam de intervenção médica com urgência. A doença pode ou não cursar com diarréia. Cefaléia com alterações do sono são comuns. Outros achados neurológicos também podem ser encontrados como ataxia, hipereflexia, parkinsonismo, espaticidade e clonus. 

Exames complementares: anemia, leucopenia (quando leucocitose suspeitar de perfuração intestinal), aumento de TGO e TGP são achados frequentes. O diagnóstico é feito através da cultura e isolamento do agente etiológico. Sorologias não são muito úteis e o tratamento deve ser empregado com base na suspeita clínica. A cultura de medula óssea é mais sensível e pode ser realizada mesmo com o uso de antimicrobianos empíricos, mantendo sensibilidade adequada. Os espécimes clínicos em que os micro-organismos responsáveis pela febre tifóide podem ser isolados/cultivados incluem as fezes, medula óssea, hemoculturas, urina, rash cutâneo e conteúdo do duodenal.

Tratamento: uma quinolona de ação sistêmica pode ser utilizada para o tratamento da doença por 7 a 10 dias. Todavia a resistência a essas drogas são altas em alguns lugares do mundo, como sul da Asia. Para essas cepas os betalactâmicos como ceftriaxona em dose alta ou azitromicina ou cloranfenicol são opções a serem utilizadas. Pessoas assintomáticas carreadoras do patógeno (presença do micro-organismo >12 meses após tratamento da infecção aguda) devem ser tratadas por 4 semanas, pois apresentam risco de transmissão. Existem dois tipos de vacinas no mercado uma parenteral e outra via oral, ambas protegem (mas não 100%) da Febre Tifóide, são recomendadas para aqueles pacientes que irão para áreas endêmicas.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Galactomanana em amostras respiratórias

Dosagem de galactomanana no lavado broncoalveolar

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A aspergilose invasiva vem crescendo em freqüência nos pacientes imunossuprimidos. Sua letalidade chega a 40% quando o diagnóstico é feito até o décimo dia de doença e sobe para incríveis 90% após esse período, tornando a detecção precoce essencial. 

O diagnóstico dessa doença pelos métodos clássicos é um verdadeiro desafio, tanto pela demora dos resultados quanto pela sensibilidade e especificidade inadequadas.  Todavia, existe um método padronizado (Plateia TM Aspergillus EIA - BioRad, França) que detecta a disseminação hematogênica do fungo, possuindo utilidade documentada na dosagem sérica em pacientes neutropênicos. O exame detecta o antígeno de um polissacarídeo que costuma estar na parede celular do micro-organismo, no caso fungo. Apesar de muitos fungos liberarem galactomanana, os que mais liberam são aqueles do gênero AspergillusGeotrichum e Penicillium. O teste deve ser realizado antes da administração de antifúngicos com espectro de ação para Aspergillus.

O racional para a dosagem da galactomanana nas amostras respiratórias são:

1. existe liberação precoce de galactomanana no compartimento alveolar e

2. o exame não possui as mesmas limitações da dosagem sérica, podendo se correlacionar melhor em pacientes não neutropênicos (neutrófilos clareiam a galactomanana sérica).

A dúvida é, qual o melhor ponto de corte? Quais são os valores? A experiência de Leuven, Bélgica pode ajudar: <0,5 exclui a doença e > 3,0 confirma a doença, independente do grupo estudado. Os exames entre 0,5 e 3,0 devem ser avaliados conforma a probabilidade pré-teste.

Acompanhe os slides baixo que ilustram com mais detalhes os pontos de corte: 

  

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

  

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Higienização das mãos

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A higienização de mãos é a medida individual mais simples e menos  dispendiosa para prevenir a propagação das infecções relacionadas à  assistência à saúde. As mãos constituem a principal via de transmissão  de micro-organismos durante a assistência prestada aos pacientes, pois a  pele é um possível reservatório de diversos patógenos, que podem  colonizar superfícies, por meio de contato direto, ou indireto, através  de objetos e superfícies contaminados (ANVISA, 2007). De todas as  infecções nosocomiais, 80% são transmitidas pelas mãos (CDC). Exija que  seu médico higienize as mãos antes e após cada consulta com água e sabonete ou solução com álcool 70%.

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

Antibioticoprofilaxia Cirúrgica: uma hora antes e não mais de 24 horas.

Uma hora antes da incisão cirúrgica e não mais de 24 horas.

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A infecção de sítio cirúrgico é responsável por até 15% das infecções nosocomiais. O uso de antibióticos profilático na cirurgia reduz a incidência de infecção de ferida operatória. A duração dos antimicrobianos não deve durar mais de 24 horas (exceto, talvez, na cirurgia cardíaca). O tempo ideal de administração do antimicrobiano é de uma hora antes da incisão cirúrgica e nova dose deve ser feita quando sangramento maior que 1500mL no transoperatório ou hemodiluição de mesmo volume. O uso do antimicrobiano uma hora antes da incisão possibilita que o mesmo tenha concentração tissular apropriada durante o transoperatório. Quando utilizada a vancomicina ou clindamicina a profilaxia deve ser realizada 180 minutos antes da incisão cirúrgica, respeitando o tempo de infusão da vancomicina.  

A profilaxia não é necessária quando o paciente já esta recebendo antimicrobianos com espectro de ação apropriado aos patógenos mais comuns da cirurgia. Naquelas cirurgias mais longas, uma dose de antimicrobianos deve ser re-administrada a cada 4 horas, exceto quando a profilaxia foi realizada com vancomicina ou aminoglicosídeo, ou seja, profilaxia com cefazolina, cefuroxima, cefoxitina, ampicilina-sulbactam e clindamicina necessitam de nova dose na quarta hora de cirurgia.  

Para aqueles pacientes colonizados com MRSA ou VRE a profilaxia deve ser ajustada para um agente antimicrobiano com ação sobre o colonizante: vancomicina, linezolida, daptomicina, conforme cada caso. Cefazolina, cefoxitina, clindamicina e ampicilina-sulbactam são os antimicrobianos mais utilizados na profilaxia cirúrgica e a escolha dentre eles depende do tipo de cirurgia e história de alergia do paciente.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Literatura sugerida - IDSA - 

Clinical practice guidelines for antimicrobial prophylaxis in surgery

 

Brucelose, uma zoonose comum no Brasil.

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A brucelose é uma zoonose causada por um cocobacilo Gram-negativo transmitido para humanos pelo contato direto com animais domésticos ou selvagens contaminados, ingesta de leite e derivados não pasteurizados e até mesmo pela pele não íntegra ou inalação por aerossóis. Contato com placenta de animais contaminados também transmite a doença. Veterinários podem se contaminar com a vacina atenuada da Brucella. A doença em humanos se expressa entre 2 a 4 semanas após a exposição ao micro-organismo.

Quatro Brucella sp podem causar doença em humanos:

  1. Brucella melitensis: encontradas em cabras, camelos e ovelhas (é a mais virulenta dentre as quatro);

  2. Brucella abortus: encontrada no gado e camelo (menos virulenta);

  3. Brucella suis: encontrada em porcos;

  4. Brucella canis: encontrada em cachorros (menos frequente), os cães podem carrear a bactéria e transmitir a mesma na urina e restos gestacionais.

Sintomas clínicos

É uma infecção sistêmica que pode envolver qualquer órgão. Hepatoesplenomegalia ocorre em até 60% dos casos e linfonodos em 10-20%. Os sintomas não específicos como febre, sudorese, anorexia, astenia, cefaléia mimetizam outras doenças. Os órgãos mais afetados são trato gastrintestinal (50-70%), osteoarticular (20-40%), sacroileíte (10-15%), pulmonar (15-20%), cardiovascular (1-2%) e genitourinário (1-5%). São bactérias intracelulares podendo causar uma reação no hospedeiro com produção de necrose caseosa, semelhante ao que ocorre com a tuberculose e outras doenças.

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser feito através de hemoculturas (todavia a mesma deve ser mantida em cultivo por 30 a 40 dias). A BMO (biópsia de medula óssea) possui maior sensibilidade e permanece positiva mesmo com o uso de antimicrobianos. A aglutinina sérica é o método com maior padronização e tanto o IgG quanto o IgM aumentam na infecção aguda. O IgG diminui com a cura da doença, o título de corte mais utilizado é de 1:160. ELISA e PCR também vem aumentando de importância. 

Tratamento 

O tratamento deve ser com duas drogas, geralmente com doxiciclina e rifampicina por 6 semanas. Em casos severos ou endocardite até 3 agentes podem ser usados: doxiciclina e/ou rifampicina e/ou sulfametoxazol-trimetoprima e/ou aminoglicosídeo. A mortalidade quando utilizada a terapia apropriada é de menos de 2%.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

“Enfim, a Cura da Aids” - revista Superinteressante

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Em agosto de 2013 a revista superinteressante estampou na capa o seguinte título: “Enfim, a Cura da Aids”.  Acredito ser ainda precoce esse tipo de informação, pois a cura de fato ainda não é possível para todos os pacientes. Hoje temos excelentes drogas que ajudam os portadores do vírus a viver com bastante qualidade de vida, mas cura, essa ainda não. Como otimista que sou, eu acredito na possibilidade do desenvolvimento da cura já nos próximos anos, enquanto essa não vem, o tratamento e acompanhamento com o médico infectologista é essencial.

Para mais informações acesse o link abaixo. 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Febre de Origem Indeterminada

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A Febre de Origem Indeterminada foi definida por Petersdorf & Beeson em 1961 com seguintes critérios:

1. Febre maior que 38,3 graus Celsius;

2. Duração de pelo menos 3 semanas (outros autores consideram 2 semanas);

3. Diagnóstico incerto após uma semana de investigação adequada no hospital.

A investigação deve conter:

- história clínica detalhada incluindo exposição a animais, uso de fármacos, viagens, ocupação, exposição, etc.

- exame físico

- hemograma com plaquetas

- hemoculturas

- exames laboratoriais sanguíneos de rotina

- sorologia para hepatites

- EQU e urocultura

- Rx Tórax

Se algum sinal ou sintoma se mostrar alterado, o mesmo deve ser investigado com imagem e/ou biópsia.

Etiologia: existem 3 categorias que causam febre de origem indeterminada

1. Infecções

2. Neoplasias

3. Doenças do tecido conjuntivo

Em um estudo holandês de 2003 a 2005, em que os autores excluíram os pacientes imunocomprometidos, as causas mais frequentes de febre de origem indeterminada foram:

# 22% doenças inflamatórias não infecciosas (vasculites, lupus, polimialgia reumática)

# 16% causas infecciosas

# 7% neoplasias

# 4% miscelánea

# 51% não diagnosticado

A febre de origem indeterminada geralmente é causada por um agente comum com uma apresentação atípica. O hospedeiro também é um fator importante. Pessoas convivendo com HIV/Aids, outros imunossupressos, idade são fatores que mudam as causas de febre de origem indeterminada e devem ser avaliados individualmente. 

A curva térmica, tremores e calafrios, o nível da febre e resposta a antipiréticos NÃO fornecem informação suficiente para especificar as possíveis origens da mesma, ou seja, o padrão da febre não indica a etiologia (exceto -talvez- na malária). 

Outros exames possíveis de serem realizados para auxílio diagnóstico são:

- tomografia e/ou RNM de tórax e abdômen

- medicina nuclear com leucócitos marcados (gálio-67 e indium-111)

- Ecodoppler de membros inferiores

- BMO

- Ecocardiograma

- Sorologias devem ser guiadas conforme a história epidemiológica do paciente

 E os 51% dos pacientes que não tiveram o diagnóstico definido apesar da investigação?

Os estudos mostraram que a maioria evolui de forma benigna melhorando da febre semanas, meses ou até anos após o início dos sintomas. Alguns tem o diagnóstico definido em outro momento ou em outra internação hospitalar.

Diagnósticos prevalentes em febre de origem indeterminada:

Doença reumática, abscesso abdominal, endocardite, sífilis, micobacteriose, linfoma, tumores sólidos, lupus eritematoso sistêmico, arterite de células gigantes e febre induzida por drogas.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

DST no Brasil

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são consideradas como um dos problemas de saúde pública mais comuns em todo o mundo. Em ambos os sexos, tornam o organismo mais vulnerável a outras doenças, inclusive a aids, além de terem relação com a mortalidade materna e infantil. No Brasil, as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) de infecções de transmissão sexual na população sexualmente ativa, a cada ano, são:

Fonte: http://www.aids.gov.br/pagina/dst-no-brasil  

  

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Meningite Aguda Bacteriana e Viral

A meningite é uma reação inflamatória das meninges (tecido do sistema nervoso central que reveste o cérebro e espinha dorsal) a algum agente agressor. Do ponto de vista infectológico diversos micro-organismos podem ser responsáveis pela meningite como bactérias e vírus. 

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A meningite aguda bacteriana é uma emergência médica. É uma infecção do sistema nervoso central causada principalmente pelo Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. Os principais achados clínicos são alteração do comportamento, febre, rigidez nucal e cefaléia. O diagnóstico é confirmado através do isolamento do micro-organismo no líquor colhido através da punção lombar. A terapêutica deve iniciar o mais precocemente possível, já que o atraso contribui para pior desfecho. O tratamento é feito com antimicrobianos que possuem boa penetração no sistema nervoso central e com alvo nos principais agentes etiológicos. A associação de corticóide (dexametasona) ao esquema inicial de terapia pode ser benéfica com diminuição das possíveis sequelas e letalidade, dependendo do germe responsável. 

Outros micro-organismos podem ser responsáveis pela meningite. Dentre os vírus, o enterovírus é o mais comum (>85%) e possuem evolução geralmente benigna. O segundo vírus mais comum na meningite é o Herpes vírus (HSV-2) e pode estar associado ao herpes genital. Meningite pelo herpes vírus necessita de tratamento antiviral e o diagnóstico é feito através de biologia molecular no líquor colhido por punção lombar.

Infecções do sistema nervoso central necessitam de manejo rápido e apropriado, o cérebro e meninges são órgãos nobres e passíveis de sequelas quando atingidos por enfermidades.

Tratamento das Meningites Bacterianas

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Leptospirose humana, principais sinais e sintomas.

Leptospirose (ou febre dos pântanos ou febre dos arrozais ou doença de Weil ou Síndrome de Weil ou Mal de Adolf Weil)

A leptospirose é uma doença bacteriana (causada por uma espiroqueta) que pode infectar humanos e animais. Existem diversos sorovares (mais de 200) e o mais importante no Brasil é o L. interrogans. A leptospirose está presente no mundo todo. 

A doença pode causar diversos sintomas quando infecta humanos desde mais brandos até casos graves, levando a dano renal, meningite, falência hepática e pulmonar e até a morte. O período de incubação pode ser de até 30 dias, média de 14 dias. 

A transmissão da leptospirose ocorre através da urina contaminada de animais e a bactéria pode ficar viável no solo por semanas a meses. Ao contrário do que muitos pensam, diversos animais selvagens e domésticos podem transmitir a leptospirose e não apenas os roedores. O gado, porcos, cavalos, cachorros e roedores são exemplos de animais que podem transmitir a bactéria através da urina contaminada quando portadores. Importante salientar que esses animais podem ter a doença e não terem os sintomas. A saliva não transmite a doença. A bactéria pode entrar no organismos através de mucosas e mesmo pele íntegra. 

Nos humanos a leptospirose pode causar febre, cefaléia, dores musculares, vômitos, icterícia, sufusão conjuntival, dor abdominal, diarréia, rash cutâneo, falência de órgãos como rins, fígado e pulmão. A forma ictéria é a mais grave (sindrome de weil - icterícia, insuficiência renal e hemorragias) e pode resultar em óbito.

A convalescença pode durar meses e nesse período o paciente pode manter-se sintomático, principalmente com mialgias e astenia. No Brasil a doença é de notificação compulsória e os exames diagnósticos fornecidos pelo Lacen, pertencentes a rede nacional de laboratórios públicos. A média anual da doença no Brasil é de 3500 casos/ano com letalidade de aproximadamente 10%.

O tratamento é com antimicrobianos como penicilinas ou doxiciclina em qualquer momento da doença, apesar dos maiores benefícios estarem quando administrados precocemente. A profilaxia também é possível para aqueles que entrarão em risco de contato com a doença (Takafuji et al. N Eng J Med 1984; 310: 497-500) e é feita com doxiciclina 200mg uma vez por semana.

  

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

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Osteomielite

A osteomielite infecciosa no adulto é uma doença inflamatória causada por micro-organismos que acarretam destruição óssea e necrose.  Os primeiros registros da doença datam de 460 AC quando era chamada de abscesso em medula e o termo osteomielite foi cunhado em 1844. 

A infecção pode ter origem hematogênica (geralmente aguda), por continuidade (por exemplo em diabéticos com úlceras) ou por trauma/cirurgia (geralmente crônica). O agente etiológico nas osteomielites por disseminação hematogênica é monomicrobiana enquanto as demais é polimicrobiana. 

Entre os principais fatores de risco para desenvolver osteomielite estão:

- Trauma (cirurgia ortopédica ou fratura exposta)

- Uso de prótese ortopédica

- Diabete Mellitus

- Hemodiálise

- Doença vascular periférica

- Imunossupressão

-Doença articular crônica

A maioria das osteomielites em adultos são crônicas e tendem a ter poucos sintomas. Com o passar dos meses ou mesmo anos a doença pode se organizar e criar um pertuito (fístula) com drenagem de secreção. Quanto mais tempo de doença o paciente tiver maiores serão os sintomas e mais complexo é o tratamento. 

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito através da anamnese e exame físico, exames laboratoriais, exames complementares de imagem (RNM e tomografia computadorizada) e análise microbiológica do osso infectado (biópsia óssea). O tratamento deve ser feito por uma equipe composta por ortopedista, cirurgião plástico e infectologista. O tempo de tratamento geralmente é longo e a terapêutica inclui o isolamento do(s) agente(s) etiológico(s), desbridamento cirúrgico, antibióticoterapia apropriada.

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

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Papilomavírus humano (HPV)

Papilomavírus humano (HPV)

Acredita-se que 50% da população sexualmente ativa do planeta tenham contato com o HPV em algum momento da vida. O HPV é responsável pela maioria dos câncer do colo do útero e orofaringe, assim como diversas verrugas genitais. É de transmissão predominantemente sexual e pode ser transmitido mesmo com o uso de preservativos. Segundo os dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer) o câncer de colo de útero é o segundo tumor mais frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de mama, apresentando 18430 novos casos todo o ano. O HPV é responsável por 95% dos câncer do colo do útero e, ao contrário do que se espera, aqueles subtipos de vírus do HPV que mais causam verrugas genitais são os que menos evoluem para neoplasias.

Duas vacinas estão aprovadas no Brasil: a vacina quadrivalente (HPV 6, 11, 16, 18) da Merck Sharp & Dohme (MSD) e as vacinas bivalentes (HPV 16, 18) da Glaxo Smith Kline (GSK), são 3 doses a serem administradas.  Infelizmente o Brasil ainda não oferece a vacina pelo SUS.

Já o câncer da orofaringe vem crescendo de incidência no mundo. Recentemente um estudo duplo cego randomizado realizado na Costa Rica (http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0068329) demonstrou que a vacina para o HPV além de proteger do câncer do colo do útero também protege contra o câncer da orofaringe.  

A infecção pelo HPV (principalmente o tipo 16) é um dos causadores do câncer da orofaringe e é transmitido através do sexo oral.  O estudo chega a conclusão que mulheres vacinadas contra o HPV apresentaram incidência muito menor de infecção oral pelo HPV 16/18 sugerindo fortemente que a vacina também previne o câncer orofaríngeo associado ao vírus. Participaram desse estudo 7466 mulheres entre 18-25 anos.


Fonte: 

Designing Tomorrow's Vaccines

Gary J. Nabel, M.D., Ph.D. N Engl J Med 2013; 368:551-560 February 7, 2013

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

Herpes Zoster - já existe vacina.

O herpes zoster (popularmente conhecido como Cobreiro) é a reativação do vírus da varicela zoster (popularmente conhecida por Catapora) . Apesar de ser menos transmissível nessa forma de apresentação, cuidados devem ser tomados quando o paciente possuir a doença. O herpes zoster pode ser transmissível a pessoas que não apresentaram varicela zoster na infância e não foram vacinados.

O tratamento antiviral e analgésico para os pacientes com herpes zoster é amplamente conhecido no meio médico, todavia, as indicações de vacinação para essa doença ainda são novidades. Recentemente o FDA (U S Food and Drug Administration - http://www.fda.gov)  aprovou o uso da vacina para pacientes acima de 50 anos de idade. A eficácia da vacina na prevenção do herpes zoster chega a 70% nessa faixa de idade. Em pacientes com mais de 60 anos a vacina não possui uma eficácia tão boa, todavia a mesma deve ser oferecida já que, apesar de não previnir totalmente a doença, ameniza sua gravidade e sequelas. A vacina previne da doença em média por 5 anos após sua aplicação, todavia o efeito atenuante parece continuar após esse período.

(Schmader KE , Oxman MN, Levin MJ, et al. Persistence of the efficacy of zoster vaccine in the shingles prevention study and the short-term persistence substudy. Clin Infect Dis 2012;55:1320-1328)

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

 

Foto do herpes zoster 

fonte:

 

 

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herpes zoster torácica

herpes zoster torácica

herpes zoster torácica

herpes zoster torácica

O mapa mundi da diarréia.

Este é o mapa mundi ponderado por episódios de diarréia.

A dificuldade de acesso a água de qualidade, saneamento básico, aspectos culturais e higiene precária são as principais causas de diarréia no mundo. A simples higienização das mãos antes da alimentação poderia previnir muitos casos.


Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

Fonte: http://www.worldmapper.org/posters/worldmapper_map233_ver5.pdf

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DST - doenças sexualmente transmissíveis

O ministério da saúde disponibiliza na internet um manual de controle das doenças sexualmente transmissíveis - DST. O manual aborda doenças como hepatites virais, HTLV, HPV, HIV, Sífilis (Lues), Gonorréia, Clamídia e uretrites em geral e pode ser baixado gratuitamente no link abaixo:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_controle_das_dst.pdf

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS