Blog

Notícias de saúde com foco em infectologia.

Comorbidades no paciente com HIV/Aids

Doença cardiovascular associada ao HIV/Aids

foto monitor.jpg

A infecção pelo HIV induz a um estado de inflamação crônico. O vírus do HIV tem a capacidade de ativar a inflamação endotelial (dentro dos vasos sanguíneos) aumentando o risco cardiovascular de pacientes soropositivos. Acredita-se que o início precoce do tratamento com os antirretrovirais tenha efeito protetor, diminuindo as chances de infarto agudo do miocário e outras doenças cardiovasculares.

Paradoxalmente, o uso de antirretrovirais pode estar associado a alterações metabólicas, entre elas a piora do perfil lipídico. Sendo assim, o perfil lipídico deve ser controlado através de alterações da dieta, exercícios físicos e manejo farmacológico (através de remédios), quando necessário. Os fármacos mais utilizados são os fibratos (genfibrozila) e estatinas (atorvastatina e pravastatina).

 

Neoplasias (câncer) associados ao HIV/Aids

- Sarcoma de Kaposi (SK)

- Linfoma não-Hodgkin

- Câncer de colo uterino

O SK, Linfoma não-Hodgkin e câncer do colo uterino são os 3 tipos de câncer mais comuns que acometem pacientes com HIV/Aids.

Esses tipos de câncer estão principalmente associados a depressão do sistema imunológico causado pela evolução do HIV. As contagens de linfócitos T-CD4+ geralmente estão abaixo de 200 células por mm3.

Para atingirmos as melhores chances de cura dessas neoplasias o diagnóstico precoce é essencial. Para tanto, o exame físico no consultório médico, o auxílio de imagem diagnóstica e outros procedimentos mais invasivos são necessários para a rápida detecção dessas doenças e essenciais para o tratamento. Por exemplo, o exame de Papanicolau (exame preventivo ginecológico) está indicado a cada 6 meses nas pacientes convivendo com HIV/Aids.

Com o emprego dos antirretrovirais essas neoplasias diminuíram em prevalência, mostrando o potente efeito protetor do “coquetel" anti-HIV. Todavia, com o aumento da sobreviva desses pacientes, vem aumentando a incidência de outras neoplasias relacionadas a outros vírus como o câncer anal, neoplasia hepática e linfoma de Hodgkin. Pacientes convivendo com HIV/Aids também possuem maior incidência de neoplasia de pulmão relacionada ao tabagismo.

 

Alterações Renais associadas ao HIV/Aids

A principal alteração renal é a nefropatia pelo HIV. Em outras palavras o vírus é tóxico para o rim. A população mais acometida pela neuropatia pelo HIV são os negros e aqueles pacientes com doença pelo HIV avançada. Raramente os pacientes com carga viral controlada (em uso de antirretrovirais) apresentam a doença. 

Alguns antirretroviarais podem apresentar nefrotoxicidade, principalmente no início de tratamento, sendo necessário o controle periódico quando utilizados esses medicamentos.

 

Osteonecrose de Cabeça do Fêmur

O próprio consenso brasileiro 2013-2014 de HIV/Aids alerta que a osteonecrose de cabeça do fêmur é mais comum em pessoas que convivem com o vírus do HIV. Qualquer dor na região da virilha ou limitação de movimento do quadril para cruzar as pernas, colocar meias ou calçados necessita de uma avaliação com especialista em quadril.

Todos pacientes com dor na virilha devem fazer exame de ressonância nuclar magnética que possui 99% de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico desde a fase inicial.

 

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

Roupa de médico

A roupa de médicos e outros profissionais da saúde sempre foi motivo de discussão tanto na imprensa quanto nas normativas nacionais

Ontem The New York Times publicou uma matéria citando as novas recomendações de como o profissional da saúde devem se vestir no trabalho. O objetivo dessas regulamentações é um só: diminuir as infecções relacionadas aos cuidados da saúde (infecção hospitalar). 

 

As recomendações incluem a não utilização de adornos quando em contato com pacientes e possuir uma rotina de higienização das roupas.

Gravatas de médicos, por exemplo, possuem mais bactérias que de não-médicos. Um estudo mostrou ainda maior colonização das gravatas por germes resistentes como MRSA.

Algumas recomendações da literatura de vestuário dos profissionais da saúde quando em atendimento a pacientes:

# não usar relógios ou anéis (adornos);

# não usar gravata;

# não utilizar jalecos / aventais ou ter uma rotina de limpeza dos mesmos e

# preferência por camisas de manga curta por facilitar a higienização das mãos.

O estudo ainda não possui a robustez metodológica que a comunidade científica espera, mas a capacidade de micro-organismos serem transmitidos por roupas e a dificuldade de higienizar as mãos na presença de adornos parecem bastantes óbvias.

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

Sarcoma de Kaposi & pacientes com HIV/Aids.

Sarcoma de Kaposi pulmonar. Imagens em chama de vela.

Sarcoma de Kaposi pulmonar. Imagens em chama de vela.

O sarcoma de Kaposi é uma doença angioproliferativa histologicamente caracterizada por angiogênese e infiltrado inflamatório. É causada pelo herpesvírus humano 8 (HHV-8) em pacientes com Aids. Diagnóstico diferencial é a angiomatose bacilar que desenvolve lesões semelhantes ao Kaposi usualmente em pacientes HIV positivos, todavia é causada pela Bartonella henselae ou B. quintana.

Entre adultos com Aids os riscos de desenvolver sarcoma de Kaposi diminuiu em torno de 90% com a introdução dos antirretrovirais (HAART), mostrando o poderoso efeito protetor do "coquetel". O risco de desenvolvimento da doença ainda permanece elevado naqueles pacientes com baixas contagens de CD4.

Sarcoma de Kaposi

Sarcoma de Kaposi

O sarcoma de Kaposi pode se apresentar desde lesões indolentes e pouco agressivas -isso ocorre geralmente naqueles pacientes já em uso de HAART- ou de forma agressiva e disseminada, naqueles pacientes que não usam antiretrovirais. As lesões do sarcoma de Kaposi ocorrem em qualquer parte da pele, frequentemente com envolvimento pulmonar, visceral e ganglionar. A forma pulmonar pode ocorrer sem lesões de pele concomitante em até 20% dos casos. O diagnóstico de sarcoma de Kaposi é feito através de biópsia das lesões suspeitas. 

A chave para o tratamento do sarcoma de Kaposi é a adequada prescrição dos antirretrovirais (HAART). As evidências atuais sugerem que o uso de HAART pode controlar o sarcoma de Kaposi limitado, podendo ser a única terapia necessária para doença pouco avançada.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

Infecções de pele e tecidos moles: celulite & erisipela

A celulite é uma infecção da pele e tecidos subjacentes geralmente causada pelo Staphylococcus aureus ou Streptococcus spp, já a erisipela se apresenta com uma lesão de pele, bem demarcada, dolorosa e geralmente causada pelo S. pyogenes. Celulite associada a abscessos geralmente são causadas por Staphylococcus. Os principais sintomas da infecção é eritema local, dor, calor e febre.

Com o uso cada vez mais comum de antimicrobianos na comunidade é crescente a resistência bacteriana do Staphylococcus aureus (CA-MRSA).

A penicilina IV ou VO (dependendo da gravidade) é a droga de escolha para erisipela. Na celulite, pela maior prevalência de Staphylococcus aureus, uma penicilina semi-sintética ou cefalosporina de primeira geração é a droga de escolha. 

As infecções de tecidos moles podem se agravar e propagar através da fáscia muscular gerando uma fasceíte necrotizante, doença grave que necessita de internação hospitalar e intervenção cirúrgica precoce. Pacientes com essa síndrome geralmente apresentam-se com sinais de septicemia. A fasceíte necrotizante geralmente é polimicrobiana causada por S aureus, Streptococcus do grupo B, bacilos gram negativos e germes anaeróbicos.  Já a gangrena gasosa é uma infecção rápida e progressiva causada pelo Clostridium perfringens, Clostridium septicum, Clostridium histolyticum ou Clostridium novyi. O Clostridium septicum é a espécime de clostridium mais tolerante ao oxigênio e podem causar gangrena gasosa espontânea em pacientes com lesões em cólon (diverticulite e adenocarcinoma). 

Fatores de risco para desenvolver infecções de pele e tecidos moles: lesões de pele, mordedura por animais, trauma, uso de drogas endovenosas, diabetes, insuficiência arterial ou venosa, linfedema, doença renal crônica, cirrose, cirurgia e celulite prévia especialmente naqueles pacientes com onicomicose.

Geralmente o uso de antimicrobianos é o suficiente para o tratamento das infecções de pele e tecidos moles, todavia uma resposta mais lenta ao tratamento pode ocorrer naqueles pacientes com infecções mais profundas, diabéticos, insuficiência venosa crônica e linfedema.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Alguns cuidados que todos os pacientes com Diabetes devem ter com seus pés

file000108151176.jpg

Os pacientes com Diabetes devem ter alguns cuidados para evitar o pé diabético infectado. Examinar os pés diariamente é necessário para detecção precoce de lesões que podem evoluir para a doença que dificultem a locomoção ou mesmo acarretem amputações. 

Alguns dos principais problemas podem ser resolvidos com os seguintes cuidados: 

- manter glicose, colesterol e pressão arterial em níveis ótimos; 

- não fumar; 

- usar alimentos saudáveis

- controlar o peso e manter atividade física; 

- examinar os pés diariamente e comunicar seu médico se lesões suspeitas;

- usar apenas sapatos confortáveis;

- reduzir o consumo de carbohidratos (uma dieta restrita em carbohidratos como paleolítica - PALEO, pode ser implantada)

 

Referência sugerida

Living With Diabetes: Keep Your Feet Healthy

Site Dr. José Carlos Souto

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Pé Diabético Infectado

iStock_000018697668Large.jpg

As infecções em membros inferiores em pacientes diabéticos (pé diabético infectado) tipicamente começam por uma úlcera neuropática. Essas são comumente colonizadas por micro-organismos e, por vezes, infectadas.  Dentre os micro-organismos que colonizam as úlceras um ou mais espécimes podem causar invasão, danos teciduais e gerar a resposta inflamatória do hospedeiro, isso é infecção. Apenas essas úlceras devem ser tratadas com antimicrobianos e, quando indicado, desbridamento cirúrgico.

Infelizmente, alguns pacientes com pé diabético infectado acabam com alguma amputação em membros inferiores baixando sua qualidade de vida. Um hospital do Reino Unido conseguiu -através de protocolos e equipe dedicada- diminuir em 40% o número de amputações (Krishnan S et al. Diabetes Care 2008; 31:99–101), mostrando que protocolos e especialistas no manejo desses pacientes são fundamentais para o melhor desfecho.

As infecções do pé diabético podem ser leves (superficiais, tamanho limitado, sem repercussões sistêmicas), moderadas (com maior profundidade e tamanho, sem repercussões sistêmicas) ou severas (com repercussões sistêmicas, alterações laboratoriais e febre). O pé diabético infectado pode evoluir para osteomielite por contiguidade da infecção.

A maioria das infecções bacterianas em pé diabético são polimicrobianas, mas com a participação principal de Gram-positivos como o estafilococo sp. Gram-negativos aeróbios são mais comuns em infecções crônicas ou naqueles pacientes que já receberam curso de antimicrobianos. Já os germes anaeróbios são copatógenos naquelas feridas necróticas ou isquêmicas. Feridas que não apresentam sinais inflamatórios (eritema, calor local, tumor, rubor, dor a palpação) e secreção purulenta ou diagnóstico de ostemielite não necessitam de antibióticoterapia e sim de manejo com curativos e outros cuidados locais. Naquelas infectadas, a cultura para aeróbios e anaeróbios pós desbridamento é aconselhada para identificação do agente etimológico. Para as feridas sem evidencias de infecção não estão recomendadas a colheita de cultura. Swabs de feridas estão conta-indicados, pois os germes isolados não são representativos. Quando colhidos exames, os mesmos devem ser realizados preferencialmente antes do início da antibióticoterapia. O IDSA recomenda que a espécime para cultura seja de tecido profundo (biópsia ou curetagem) após a ferida ser desbridada e limpa com técnica estéril.

As recomendações gerais de tratamento empírico devem levar em consideração os agentes etiológicos mais comuns e severidade da infecção. Para infecções leves a moderadas a sugestão é de tratamento empírico apenas para cocos Gram-positivos. Para infecções mais severas o tratamento deve ter maior espectro, hemoculturas e cultura do sítio devem ser solicitadas preferencialmente antes do início da antibióticoterapia. Infecções mais complexas do pé diabético infectado necessitam de internação hospitalar.  A terapia empírica para Pseudomonas aeruginosa não está rotineiramente indicada e terapia empírica para MRSA deve ser considerada para aqueles pacientes que tiveram infecção prévia por esse germe ou colonizados por MRSA.

Para o tratamento do pé diabético infectado é essencial uma equipe de especialistas na doença, antibióticoterapia apropriada por 7 até 21 dias, avaliação do cirurgião vascular e rígido controle metabólico do paciente.

 

 

Alguns cuidados que todos os pacientes com Diabetes devem ter com seus pés

 

Referências bibliográficas:

Diabetic Foot Infection

 

2012 Infectious Diseases Society of America - Diabetic Foot Infections

 

 

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Doença de Chagas, revisão da literatura médica.

Chagas.jpg
Dr. Carlos Chagas

Dr. Carlos Chagas

Em 1909 o médico sanitarista brasileiro Dr Carlos Justiniano Ribeiro Chagas descobriu a doença de Chagas e demostrou todo seu ciclo, incluindo o vetor da doença, o parasita Trypanosoma cruzi, o hospedeiro, as manifestações clínicas e epidemiologia da doença. Nenhum cientista na história da medicina repetiu tal feito até os dias de hoje. Hoje a doença de Chagas é considerada uma patologia que ocorre em quase todo o planeta. 

Sem dúvidas o local de moradia propício a albergar os triatomíneos é um dos maiores fatores de risco para a doença. Os triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiro, bicudo, chupança, furão, dentre outros, são os vetores da doença de Chagas. São pertencentes à Ordem Hemiptera por apresentarem o primeiro par de asas com uma parte membranosa e outra parte dura, coriácea. Todos os hemípteros também possuem um aparelho bucal do tipo "picador-sugador", que pode ser utilizado para sugar seiva de plantas (hemípteros fitófagos), para sugar outros insetos (hemípteros predadores ou entomófagos) ou para sugar sangue (hemípteros hematófagos, os triatomíneos) - http://www.cpqrr.fiocruz.br/laboratorios/lab_triato/vetores%20da%20chagas.htm

 

Período de incubação

- Transmissão vetorial – de 4 a 15 dias.

- Transmissão transfusional – de 30 a 40 dias ou mais.

- Transmissão vertical – pode ser transmitida em qualquer período da gestação ou durante o parto.

- Transmissão oral – de 3 a 22 dias. 

- Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias. 

 

A doença de Chagas pode causar inúmeras repercussões no ser humano. Na doença de Chagas aguda a notificação é compulsória e se caracteriza por alta parasitemia no sangue periférico que dura até 8 semanas. O período de maior transmissão vai de setembro a março no Brasil, época mais quente e úmida o que favorece a atividade dos vetores domiciliados (triatomíneos). Referente a mortalidade da doença de Chagas aguda o Manual Prático de Subsídio à Notificação Obrigatória no SINAN, MS, Doença de Chagas Aguda diz: A morbi- mortalidade da doença aguda por Chagas (DCA) guarda em geral relação direta com a idade do paciente. Via de regra, quanto mais jovem é este, tanto mais grave e clinicament e exuberante é o quadro clínico da enfermidade, assim como maior é a letalidade, como bem observado em 364 casos agudos estudados em Bambuí, Minas Gerais, todos de transmissão vetorial. Por exemplo, naquela casuística de indivíduos sem tratamento específico, faleceram no total 8,3% dos pacientes, sendo 19,8% na idade de 0 a 2 anos, 6,7% entre 3 e 5 anos, 3,5% entre 6 e 10 anos e 0,0% acima de 10 anos. A maioria absoluta das mortes por DCA foi devida a insuficiência cardíaca congestiva aguda, por miocardite aguda chagásica, associando-se 10% de meningo- encefalite devida ao T.cruzi, nestes casos fatais. Dias JCP. Acute Chagas Disease. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 79: 85 –79, 1984. 

 Arquivo do Dr. E. Dias, FIOCRUZ – Bambuí, MG

 

Arquivo do Dr. E. Dias, FIOCRUZ – Bambuí, MG

Sintomas da doença de Chagas aguda: os sintomas clínicos estão relacionados principalmente a idade do paciente, mas entre os sintomáticos a febre persistente e prolongada por até 4 semanas é um sintoma comum. Naqueles casos em que a transmissão se deu através de vetores é possível encontrar o chagoma de inoculação, sendo o mais clássico (apesar de incomun <10% dos casos) o complexo oftalmoganglionar - sinal de Romaña. O sinal de Romaña é uma resposta imunológica a penetração do parasita, que pode durar algumas semanas e caracterizada edema bipalpebral, unilateral, com acometimento de linfonodos pré-auriculares. Outros achados incluem a taquicardia, adenopatia e hepato-esplenomegalia. Esses achados são semelhantes aqueles encontrados na tuberculose disseminada, doença pelo HIV, mononucleose infecciosa, paracococcidiodomicose forma juvenil, brucelose e neoplasias. Doenças que fazem parte da investigação da febre de origem indeterminada

O diagnóstico na fase aguda da doença de Chagas pode ser feito através da visualização direta do parasita no sangue (critério parasitológico - teste direto a fresco) ou pelo achado de anticorpos anti-T. cruzi da classe IgM no sangue periférico (critério sorológico - IFI-IgM ou WB).

Fora as incomuns situações de doença aguda sintomática a enorme maioria dos pacientes possuem doença crônica assintomática que pode, ou não, evoluir para sequelas chagásticas: cardiomegalia, megacólon, esôfago de Chagas, etc.

A infecção crônica da doença de Chagas é mais comum e o diagnóstico bem menos simples. Na infecção crônica há necessidade de exames sorológicos de diferentes métodologias e hemocultivo específico para Chagas, os mesmos devem ser interpretados com o objetivo de estratificar aqueles pacientes que se beneficiarão do tratamento. O PCR (reação da cadeia polimerase)  nessa fase pode auxiliar o diagnóstico, principalmente quando sorologias duvidosas. Os testes mais sensíveis são ELISA ou IFI-IgG e devem ser realizados com outra metodologia como o HAI. O resultado desses exames são analisados da seguinte forma: ambos positivos equivale doença crônica de Chagas e ambos negativos afasta a doença. Todavia, quando os resultados de dois métodos são contraditórios os exames devem ser repetidos ou mesmo lançar mão da possibilidade de WB ou PCR para o Trypanosoma cruzi.

O tratamento da doença de chagas é recomendado para todos aqueles com infecção aguda, infecção congênita, para aqueles com sistema imunológico diminuído e para crianças com doença crônica pelo Chagas. Adultos com doença crônica também podem se beneficiar do tratamento. A droga disponível para tratamento no Brasil é o Benzonidazol 100mg (ROCHAGAN) com dose diária de 5 a 7mg/kg dividido em duas doses por 30 a 60 dias e é de distribuição gratuita pelo Ministério da Saúde. 

Literatura sugerida:

DOENÇA DE CHAGAS CID 10: B57

http://www.cdc.gov/parasites/chagas/ 

 

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Endocardite Infecciosa

iStock_000005678874Large.jpg

A endocardite infecciosa é a infecção na(s) válvula(s) do coração. As taxas mais elevadas de endocardite infecciosa são vistas naqueles pacientes com válvulas cardíacas protéticas, com dispositivos intracardíacos (marca-passo, p. ex.), doenças congênitas cianóticas não corrigidas cirurgicamente, história de endocardite prévia, doença reumática cardíaca, lesões valvulares degenerativas, pacientes em hemodiálise, pacientes com HIV/Aids, diabetes, pós procedimentos dentários e em usuários de drogas injetáveis.

Microbiologia

Os estreptococos e estafilococos representam 80% dos casos de endocardite infecciosa, com proporções que dependem se a valva (ou válvula) é nativa ou artificial (protética), se a infecção é comunitária ou nosocomial (hospitalar), entre outras.

Endocardite com hemoculturas negativas

Aproximadamente 10% das endocardites infecciosas não isolam o germe responsável pela doença nas hemoculturas e existem dois motivos para isso ocorrer:

  1. paciente com uso prévio de antimicrobianos;

  2. endocardite causada por micro-organismos de difícil crescimento em hemoculturas.

Nesses casos os testes diagnóstico por sorologia, biologia molecular (PCR) e técnicas especiais de cultivo devem ser utilizadas. Os micro-organismos mais frequentes nessas situações são: espécimes de bartonella, brucelose, febre Q e o grupo HACEK. 

HACEK: Haemophilus specie, Actinobacillus, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella kingae.

Testes sorológicos para bartonella, C. burnetii e brucelose devem ser realizados naqueles pacientes com hemoculturas negativas. Amplificação genética por PCR na valva cardíaca também é uma possibilidade para diagnóstico do agente etiológico, método ainda pouco disponível no Brasil. 

A endocardite infecciosa causada por fungos além de possuir alta letalidade é indicação de troca valvar em virtualmente todos os casos. 

 

Diagnóstico

Critérios de DUKE apresenta sensibilidade e especificidade de aproximadamente 80%. Ecocardiograma transtorácico e, dependendo dos achados, transesofágico devem ser realizados para o diagnóstico e acompanhamento da endocardite infecciosa. Febre, astenia, surgimento de novo sopro cardíaco, sudorese noturna, lesões de pele são alguns sintomas possíveis na endocardite. É uma das doenças do diagnóstico diferencial de febre de origem indeterminada.

 Tratamento

O tratamento da endocardite infecciosa é realizado por 2 a 6 semanas com antimicrobianos endovenosos (dependendo da gravidade de cada caso e do agente etiológico isolado). Alguns pacientes necessitam a troca da válvula cardíaca devido a destruição ou disfunção da mesma. Quando isso é necessário durante o tratamento com antimicrobianos, a duração do mesmo deve se manter a mesma, exceto se a cultura da válvula retirada ainda demonstrar o micro-organismo, nesses casos, o tempo de tratamento deverá ser revisto.

Prevenção

A profilaxia cirúrgica é uma das principais formas de prevenção da endocardite infecciosa, também indicada para alguns procedimentos dentários. 

 

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Febre Tifóide

A febre tifóide é uma doença febril sistêmica associada principalmente a dor abdominal. O micro-organismo mais envolvido na doença é a Salmonella entérica sorotipo typhi (S typhi).  A febre tifóide é mais comum em crianças e adultos jovens, e está presente em todo o mundo possuindo preferência a locais com pior saneamento básico e alta densidade de habitantes. Os locais com maior prevalência da doença no planeta é a Asia seguido da America Latina, Caribe e Oceania.

A febre tifóide no Brasil: nos últimos 12 anos (http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1554) ocorreram mais de cinco mil casos confirmados de febre tifóide no Brasil, desses mais de 90% foram na região norte e nordeste.

iStock_000016250301Large.jpg

O micro-organismo classicamente responsável pela doença é a Salmonella enterica sorotipo typhi (S typhi), todavia outros podem ser agentes da mesma doença: Salmonella paratyphi A, Salmonella paratyphi B, Salmonella paratyphi C e Salmonella choleraesuis. O homem é o único reservatório da S enterica sorotipo typhi.

Achados clínicos: os sintomas da febre tifóide ocorrem entre 5 a 21 dias após ingesta de água ou alimento contaminados pelo micro-organismo. A febre e calafrios são comuns na primeira semana de sintomas (paradoxalmente associada a bradicardia) e, na segunda semana de doença, surgem a dor abdominal e rash cutâneo em tórax e abdômen. Na terceira semana de doença podem ocorrer sangramento intestinal, hepatoesplenomegalia e perfuração intestinal. Esses achados levam para sepse e necessitam de intervenção médica com urgência. A doença pode ou não cursar com diarréia. Cefaléia com alterações do sono são comuns. Outros achados neurológicos também podem ser encontrados como ataxia, hipereflexia, parkinsonismo, espaticidade e clonus. 

Exames complementares: anemia, leucopenia (quando leucocitose suspeitar de perfuração intestinal), aumento de TGO e TGP são achados frequentes. O diagnóstico é feito através da cultura e isolamento do agente etiológico. Sorologias não são muito úteis e o tratamento deve ser empregado com base na suspeita clínica. A cultura de medula óssea é mais sensível e pode ser realizada mesmo com o uso de antimicrobianos empíricos, mantendo sensibilidade adequada. Os espécimes clínicos em que os micro-organismos responsáveis pela febre tifóide podem ser isolados/cultivados incluem as fezes, medula óssea, hemoculturas, urina, rash cutâneo e conteúdo do duodenal.

Tratamento: uma quinolona de ação sistêmica pode ser utilizada para o tratamento da doença por 7 a 10 dias. Todavia a resistência a essas drogas são altas em alguns lugares do mundo, como sul da Asia. Para essas cepas os betalactâmicos como ceftriaxona em dose alta ou azitromicina ou cloranfenicol são opções a serem utilizadas. Pessoas assintomáticas carreadoras do patógeno (presença do micro-organismo >12 meses após tratamento da infecção aguda) devem ser tratadas por 4 semanas, pois apresentam risco de transmissão. Existem dois tipos de vacinas no mercado uma parenteral e outra via oral, ambas protegem (mas não 100%) da Febre Tifóide, são recomendadas para aqueles pacientes que irão para áreas endêmicas.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Galactomanana em amostras respiratórias

Dosagem de galactomanana no lavado broncoalveolar

iStock_000011861815Large.jpg

A aspergilose invasiva vem crescendo em freqüência nos pacientes imunossuprimidos. Sua letalidade chega a 40% quando o diagnóstico é feito até o décimo dia de doença e sobe para incríveis 90% após esse período, tornando a detecção precoce essencial. 

O diagnóstico dessa doença pelos métodos clássicos é um verdadeiro desafio, tanto pela demora dos resultados quanto pela sensibilidade e especificidade inadequadas.  Todavia, existe um método padronizado (Plateia TM Aspergillus EIA - BioRad, França) que detecta a disseminação hematogênica do fungo, possuindo utilidade documentada na dosagem sérica em pacientes neutropênicos. O exame detecta o antígeno de um polissacarídeo que costuma estar na parede celular do micro-organismo, no caso fungo. Apesar de muitos fungos liberarem galactomanana, os que mais liberam são aqueles do gênero AspergillusGeotrichum e Penicillium. O teste deve ser realizado antes da administração de antifúngicos com espectro de ação para Aspergillus.

O racional para a dosagem da galactomanana nas amostras respiratórias são:

1. existe liberação precoce de galactomanana no compartimento alveolar e

2. o exame não possui as mesmas limitações da dosagem sérica, podendo se correlacionar melhor em pacientes não neutropênicos (neutrófilos clareiam a galactomanana sérica).

A dúvida é, qual o melhor ponto de corte? Quais são os valores? A experiência de Leuven, Bélgica pode ajudar: <0,5 exclui a doença e > 3,0 confirma a doença, independente do grupo estudado. Os exames entre 0,5 e 3,0 devem ser avaliados conforma a probabilidade pré-teste.

Acompanhe os slides baixo que ilustram com mais detalhes os pontos de corte: 

  

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

  

galactomanana em amostras respiratórias 2012.050.jpg
galactomanana em amostras respiratórias 2012 - RESUMO.058.jpg

Higienização das mãos

lavar_maos.jpg

A higienização de mãos é a medida individual mais simples e menos  dispendiosa para prevenir a propagação das infecções relacionadas à  assistência à saúde. As mãos constituem a principal via de transmissão  de micro-organismos durante a assistência prestada aos pacientes, pois a  pele é um possível reservatório de diversos patógenos, que podem  colonizar superfícies, por meio de contato direto, ou indireto, através  de objetos e superfícies contaminados (ANVISA, 2007). De todas as  infecções nosocomiais, 80% são transmitidas pelas mãos (CDC). Exija que  seu médico higienize as mãos antes e após cada consulta com água e sabonete ou solução com álcool 70%.

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

Antibioticoprofilaxia Cirúrgica: uma hora antes e não mais de 24 horas.

Uma hora antes da incisão cirúrgica e não mais de 24 horas.

maos.jpg

A infecção de sítio cirúrgico é responsável por até 15% das infecções nosocomiais. O uso de antibióticos profilático na cirurgia reduz a incidência de infecção de ferida operatória. A duração dos antimicrobianos não deve durar mais de 24 horas (exceto, talvez, na cirurgia cardíaca). O tempo ideal de administração do antimicrobiano é de uma hora antes da incisão cirúrgica e nova dose deve ser feita quando sangramento maior que 1500mL no transoperatório ou hemodiluição de mesmo volume. O uso do antimicrobiano uma hora antes da incisão possibilita que o mesmo tenha concentração tissular apropriada durante o transoperatório. Quando utilizada a vancomicina ou clindamicina a profilaxia deve ser realizada 180 minutos antes da incisão cirúrgica, respeitando o tempo de infusão da vancomicina.  

A profilaxia não é necessária quando o paciente já esta recebendo antimicrobianos com espectro de ação apropriado aos patógenos mais comuns da cirurgia. Naquelas cirurgias mais longas, uma dose de antimicrobianos deve ser re-administrada a cada 4 horas, exceto quando a profilaxia foi realizada com vancomicina ou aminoglicosídeo, ou seja, profilaxia com cefazolina, cefuroxima, cefoxitina, ampicilina-sulbactam e clindamicina necessitam de nova dose na quarta hora de cirurgia.  

Para aqueles pacientes colonizados com MRSA ou VRE a profilaxia deve ser ajustada para um agente antimicrobiano com ação sobre o colonizante: vancomicina, linezolida, daptomicina, conforme cada caso. Cefazolina, cefoxitina, clindamicina e ampicilina-sulbactam são os antimicrobianos mais utilizados na profilaxia cirúrgica e a escolha dentre eles depende do tipo de cirurgia e história de alergia do paciente.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Literatura sugerida - IDSA - 

Clinical practice guidelines for antimicrobial prophylaxis in surgery

 

Brucelose, uma zoonose comum no Brasil.

iStock_000027032743Large.jpg

A brucelose é uma zoonose causada por um cocobacilo Gram-negativo transmitido para humanos pelo contato direto com animais domésticos ou selvagens contaminados, ingesta de leite e derivados não pasteurizados e até mesmo pela pele não íntegra ou inalação por aerossóis. Contato com placenta de animais contaminados também transmite a doença. Veterinários podem se contaminar com a vacina atenuada da Brucella. A doença em humanos se expressa entre 2 a 4 semanas após a exposição ao micro-organismo.

Quatro Brucella sp podem causar doença em humanos:

  1. Brucella melitensis: encontradas em cabras, camelos e ovelhas (é a mais virulenta dentre as quatro);

  2. Brucella abortus: encontrada no gado e camelo (menos virulenta);

  3. Brucella suis: encontrada em porcos;

  4. Brucella canis: encontrada em cachorros (menos frequente), os cães podem carrear a bactéria e transmitir a mesma na urina e restos gestacionais.

Sintomas clínicos

É uma infecção sistêmica que pode envolver qualquer órgão. Hepatoesplenomegalia ocorre em até 60% dos casos e linfonodos em 10-20%. Os sintomas não específicos como febre, sudorese, anorexia, astenia, cefaléia mimetizam outras doenças. Os órgãos mais afetados são trato gastrintestinal (50-70%), osteoarticular (20-40%), sacroileíte (10-15%), pulmonar (15-20%), cardiovascular (1-2%) e genitourinário (1-5%). São bactérias intracelulares podendo causar uma reação no hospedeiro com produção de necrose caseosa, semelhante ao que ocorre com a tuberculose e outras doenças.

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser feito através de hemoculturas (todavia a mesma deve ser mantida em cultivo por 30 a 40 dias). A BMO (biópsia de medula óssea) possui maior sensibilidade e permanece positiva mesmo com o uso de antimicrobianos. A aglutinina sérica é o método com maior padronização e tanto o IgG quanto o IgM aumentam na infecção aguda. O IgG diminui com a cura da doença, o título de corte mais utilizado é de 1:160. ELISA e PCR também vem aumentando de importância. 

Tratamento 

O tratamento deve ser com duas drogas, geralmente com doxiciclina e rifampicina por 6 semanas. Em casos severos ou endocardite até 3 agentes podem ser usados: doxiciclina e/ou rifampicina e/ou sulfametoxazol-trimetoprima e/ou aminoglicosídeo. A mortalidade quando utilizada a terapia apropriada é de menos de 2%.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

“Enfim, a Cura da Aids” - revista Superinteressante

481072_10151751390832580_227368921_n-e1374697890136.jpg

Em agosto de 2013 a revista superinteressante estampou na capa o seguinte título: “Enfim, a Cura da Aids”.  Acredito ser ainda precoce esse tipo de informação, pois a cura de fato ainda não é possível para todos os pacientes. Hoje temos excelentes drogas que ajudam os portadores do vírus a viver com bastante qualidade de vida, mas cura, essa ainda não. Como otimista que sou, eu acredito na possibilidade do desenvolvimento da cura já nos próximos anos, enquanto essa não vem, o tratamento e acompanhamento com o médico infectologista é essencial.

Para mais informações acesse o link abaixo. 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Febre de Origem Indeterminada

iStock_000016005749Large.jpg

A Febre de Origem Indeterminada foi definida por Petersdorf & Beeson em 1961 com seguintes critérios:

1. Febre maior que 38,3 graus Celsius;

2. Duração de pelo menos 3 semanas (outros autores consideram 2 semanas);

3. Diagnóstico incerto após uma semana de investigação adequada no hospital.

A investigação deve conter:

- história clínica detalhada incluindo exposição a animais, uso de fármacos, viagens, ocupação, exposição, etc.

- exame físico

- hemograma com plaquetas

- hemoculturas

- exames laboratoriais sanguíneos de rotina

- sorologia para hepatites

- EQU e urocultura

- Rx Tórax

Se algum sinal ou sintoma se mostrar alterado, o mesmo deve ser investigado com imagem e/ou biópsia.

Etiologia: existem 3 categorias que causam febre de origem indeterminada

1. Infecções

2. Neoplasias

3. Doenças do tecido conjuntivo

Em um estudo holandês de 2003 a 2005, em que os autores excluíram os pacientes imunocomprometidos, as causas mais frequentes de febre de origem indeterminada foram:

# 22% doenças inflamatórias não infecciosas (vasculites, lupus, polimialgia reumática)

# 16% causas infecciosas

# 7% neoplasias

# 4% miscelánea

# 51% não diagnosticado

A febre de origem indeterminada geralmente é causada por um agente comum com uma apresentação atípica. O hospedeiro também é um fator importante. Pessoas convivendo com HIV/Aids, outros imunossupressos, idade são fatores que mudam as causas de febre de origem indeterminada e devem ser avaliados individualmente. 

A curva térmica, tremores e calafrios, o nível da febre e resposta a antipiréticos NÃO fornecem informação suficiente para especificar as possíveis origens da mesma, ou seja, o padrão da febre não indica a etiologia (exceto -talvez- na malária). 

Outros exames possíveis de serem realizados para auxílio diagnóstico são:

- tomografia e/ou RNM de tórax e abdômen

- medicina nuclear com leucócitos marcados (gálio-67 e indium-111)

- Ecodoppler de membros inferiores

- BMO

- Ecocardiograma

- Sorologias devem ser guiadas conforme a história epidemiológica do paciente

 E os 51% dos pacientes que não tiveram o diagnóstico definido apesar da investigação?

Os estudos mostraram que a maioria evolui de forma benigna melhorando da febre semanas, meses ou até anos após o início dos sintomas. Alguns tem o diagnóstico definido em outro momento ou em outra internação hospitalar.

Diagnósticos prevalentes em febre de origem indeterminada:

Doença reumática, abscesso abdominal, endocardite, sífilis, micobacteriose, linfoma, tumores sólidos, lupus eritematoso sistêmico, arterite de células gigantes e febre induzida por drogas.

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

DST no Brasil

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são consideradas como um dos problemas de saúde pública mais comuns em todo o mundo. Em ambos os sexos, tornam o organismo mais vulnerável a outras doenças, inclusive a aids, além de terem relação com a mortalidade materna e infantil. No Brasil, as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) de infecções de transmissão sexual na população sexualmente ativa, a cada ano, são:

Fonte: http://www.aids.gov.br/pagina/dst-no-brasil  

  

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Meningite Aguda Bacteriana e Viral

A meningite é uma reação inflamatória das meninges (tecido do sistema nervoso central que reveste o cérebro e espinha dorsal) a algum agente agressor. Do ponto de vista infectológico diversos micro-organismos podem ser responsáveis pela meningite como bactérias e vírus. 

.jpg

A meningite aguda bacteriana é uma emergência médica. É uma infecção do sistema nervoso central causada principalmente pelo Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. Os principais achados clínicos são alteração do comportamento, febre, rigidez nucal e cefaléia. O diagnóstico é confirmado através do isolamento do micro-organismo no líquor colhido através da punção lombar. A terapêutica deve iniciar o mais precocemente possível, já que o atraso contribui para pior desfecho. O tratamento é feito com antimicrobianos que possuem boa penetração no sistema nervoso central e com alvo nos principais agentes etiológicos. A associação de corticóide (dexametasona) ao esquema inicial de terapia pode ser benéfica com diminuição das possíveis sequelas e letalidade, dependendo do germe responsável. 

Outros micro-organismos podem ser responsáveis pela meningite. Dentre os vírus, o enterovírus é o mais comum (>85%) e possuem evolução geralmente benigna. O segundo vírus mais comum na meningite é o Herpes vírus (HSV-2) e pode estar associado ao herpes genital. Meningite pelo herpes vírus necessita de tratamento antiviral e o diagnóstico é feito através de biologia molecular no líquor colhido por punção lombar.

Infecções do sistema nervoso central necessitam de manejo rápido e apropriado, o cérebro e meninges são órgãos nobres e passíveis de sequelas quando atingidos por enfermidades.

Tratamento das Meningites Bacterianas

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Leptospirose humana, principais sinais e sintomas.

Leptospirose (ou febre dos pântanos ou febre dos arrozais ou doença de Weil ou Síndrome de Weil ou Mal de Adolf Weil)

A leptospirose é uma doença bacteriana (causada por uma espiroqueta) que pode infectar humanos e animais. Existem diversos sorovares (mais de 200) e o mais importante no Brasil é o L. interrogans. A leptospirose está presente no mundo todo. 

A doença pode causar diversos sintomas quando infecta humanos desde mais brandos até casos graves, levando a dano renal, meningite, falência hepática e pulmonar e até a morte. O período de incubação pode ser de até 30 dias, média de 14 dias. 

A transmissão da leptospirose ocorre através da urina contaminada de animais e a bactéria pode ficar viável no solo por semanas a meses. Ao contrário do que muitos pensam, diversos animais selvagens e domésticos podem transmitir a leptospirose e não apenas os roedores. O gado, porcos, cavalos, cachorros e roedores são exemplos de animais que podem transmitir a bactéria através da urina contaminada quando portadores. Importante salientar que esses animais podem ter a doença e não terem os sintomas. A saliva não transmite a doença. A bactéria pode entrar no organismos através de mucosas e mesmo pele íntegra. 

Nos humanos a leptospirose pode causar febre, cefaléia, dores musculares, vômitos, icterícia, sufusão conjuntival, dor abdominal, diarréia, rash cutâneo, falência de órgãos como rins, fígado e pulmão. A forma ictéria é a mais grave (sindrome de weil - icterícia, insuficiência renal e hemorragias) e pode resultar em óbito.

A convalescença pode durar meses e nesse período o paciente pode manter-se sintomático, principalmente com mialgias e astenia. No Brasil a doença é de notificação compulsória e os exames diagnósticos fornecidos pelo Lacen, pertencentes a rede nacional de laboratórios públicos. A média anual da doença no Brasil é de 3500 casos/ano com letalidade de aproximadamente 10%.

O tratamento é com antimicrobianos como penicilinas ou doxiciclina em qualquer momento da doença, apesar dos maiores benefícios estarem quando administrados precocemente. A profilaxia também é possível para aqueles que entrarão em risco de contato com a doença (Takafuji et al. N Eng J Med 1984; 310: 497-500) e é feita com doxiciclina 200mg uma vez por semana.

  

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS

 

Osteomielite

A osteomielite infecciosa no adulto é uma doença inflamatória causada por micro-organismos que acarretam destruição óssea e necrose.  Os primeiros registros da doença datam de 460 AC quando era chamada de abscesso em medula e o termo osteomielite foi cunhado em 1844. 

A infecção pode ter origem hematogênica (geralmente aguda), por continuidade (por exemplo em diabéticos com úlceras) ou por trauma/cirurgia (geralmente crônica). O agente etiológico nas osteomielites por disseminação hematogênica é monomicrobiana enquanto as demais é polimicrobiana. 

Entre os principais fatores de risco para desenvolver osteomielite estão:

- Trauma (cirurgia ortopédica ou fratura exposta)

- Uso de prótese ortopédica

- Diabete Mellitus

- Hemodiálise

- Doença vascular periférica

- Imunossupressão

-Doença articular crônica

A maioria das osteomielites em adultos são crônicas e tendem a ter poucos sintomas. Com o passar dos meses ou mesmo anos a doença pode se organizar e criar um pertuito (fístula) com drenagem de secreção. Quanto mais tempo de doença o paciente tiver maiores serão os sintomas e mais complexo é o tratamento. 

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito através da anamnese e exame físico, exames laboratoriais, exames complementares de imagem (RNM e tomografia computadorizada) e análise microbiológica do osso infectado (biópsia óssea). O tratamento deve ser feito por uma equipe composta por ortopedista, cirurgião plástico e infectologista. O tempo de tratamento geralmente é longo e a terapêutica inclui o isolamento do(s) agente(s) etiológico(s), desbridamento cirúrgico, antibióticoterapia apropriada.

 

 

Renato Cassol - Médico Infectologista

Porto Alegre - RS